ARGONALDO

A Filosofia Cotidiana Brasileira

Argonaldo é uma personagem criada pelo filósofo Sérgio Sá Júnior, que por caráter analítico, serve ao leitor uma base descomplicada das situações atuais em todos os âmbitos da vida brasileira.

domingo, 23 de maio de 2021

 

A BANCARROTA EVIDENTE DA VAIDADE X REFLEXÃO

 

Não era novidade alguma que o desastre do governo atual era iminente. Por introito, a incompetência do deputado, Jair Messias Bolsonaro, quando ainda ocupava tal cargo. Incompentência. Pois em vinte e sete anos no exercício, apenas conseguira ter aprovado dois projetos. Dois e tão somente dois.

Pelo caráter do discurso em sua campanha nas eleições para presidente da república, com um tom bravio que marginalizava o Partido dos Trabalhadores e os demais de esquerda, dando profundo antagonismo ao caminho enveredado pelo PT e por uma verbalização contundente sobre uma nova política, com as rédeas curtíssimas quanto, principalmente, ao fator corrupção, o então candidato fora construindo uma ilusão e por conseguinte abrindo caminho para a conquista nas urnas. Logo tomou força, uma seita antidemocrática e preconceituosa, denominada “bolsonarismo”.

Agora lembremos, razoavelmente, da teoria atômica de Demócrito. Demócrito acreditava que tudo existente no mundo se transformava pela razão de tudo ser composto por partículas indivisíveis de tamanhos distintos que se encaixavam para formar, desencaixavam-se para desconstruir e posteriormente encaixavam-se do mesmo modo para dar nova vida àquela forma desconstruída. O exemplo clássico - em filosofia para iniciantes - é ilustrado através do brinquedo Lego. Um brinquedo de peças com tamanhos distintos que se conectam para formar e se desconectam para desconstruir.

Tomamos então a caminhada do presidente, construindo, peça por peça, a sua chegada ao Palácio do Planalto. Uma caminhada realizada com peças pontuais, oriundas de uma visão muito mais vaidosa do que ideologicamente reflexiva para o agora e o depois. E é partindo de tal ponto que devemos perguntar: quais peças exatas foram utilizadas? Hoje, em maio de dois mil e vinte e um, notoriamente, sabemos que foram utilizadas peças de beligerância como legitimadoras “popularescas” de discursos antagônicos aos partidos de esquerda, sendo o alvo maior o PT; as peças de mentiras; as peças de notícias falsas e robôs que lançavam, repetidamente, comentários enganosos nas redes sociais afora; as peças do descaso social em prol da economia e segurança pública; as peças de formas únicas e exclusivas, conectadas ao segmento religioso evangélico.

 

A vaidade contra a ideologia reflexiva é fadada ao fracasso no primeiro passo, atuante como ferramenta nas desconstruções de todo e qualquer planejamento, como uma verdadeira máquina de destruição quando se chega no estágio cego. Mais ainda, quando a ideologia passa como simples pretexto para o alimento da vaidade. E é importante salientar que a vaidade, mencionada aqui, possui como substâncias, o benefício próprio e o sustento da própria imagem. Sigamos para um exemplo vivo.

O presidente da república e parte de seu séquito, desde o início do mandato, praticam mentiras, ações inconstitucionais e ataques aos órgãos supremos - quando impedidos da prática de planos construídos durante a campanha ou quando ameaçados politicamente - sempre com os costumeiros “não era nada disso” ou “eu não quis dizer aquilo”. Percebemos então, a nítida força que a vaidade exerce sobre o caráter do indivíduo em questão. Se pensássemos sobre a ideologia reflexiva, a postura do grupo deveria estar integralmente de acordo com os seus discursos e sua beligerância, principalmente pela razão de todo planejamento governamental se desenvolver pelos pontos muito bem calculados, amarrados em hipóteses alternativas e definidos para seu processo de execução. No entanto, ao primeiro grito de “fora Bolsonaro”, o que de fato vimos, foi a hesitação dos atos do líder do grupo em virtude da manutenção de sua aparência. Logo, enquanto alguns membros seguiram o processo de mudança (dissimulação) do presidente, outros tornaram-se, ainda mais, severíssimos extremistas. E assim sendo, de acordo com a ordem natural das coisas, quando se segue para um lado, concomitante, não há como percorrer outro. E nada mais fica tão transparente quanto os inúmeros desencontros de explicações, tanto para o fiel eleitorado quanto para a população opositora e os membros do grupo de caráteres mais radicais.

Nesse ponto, as peças encaixadas que formaram o alcance ao Palácio do Planalto, rui desenfreadamente, deixando cada pedaço de cada peça em formatos irreconhecíveis. Impossíveis de serem remontadas. Em síntese: fala-se uma coisa e faz-se outra; fala-se uma coisa e nega o que falara; faz-se uma coisa e nega o que fizera; recorre-se aos mesmos métodos corruptos para manter o poder. A busca para suprir a vaidade torna-se mais intensa e a ideologia desmorona.

 

O que nos apresenta agora é a evidente falta de empatia com a população em geral, a falta de competência para governar um país - mormente em crises - e o descaso total com o senso político em todos os aspectos. Além, da pressão, dos aliados comprados, por uma melhor performance política.

  Sabendo que a população brasileira é muito mais emípirica do que racionalista, posturas desse porte são imperdoáveis, e a insistência no descaso gera um estigma que perdurará por longos anos a perder de vista.

 

São as partículas de Demócrito se desconectando, destruídas, para nesse caso, não se conectarem nunca mais.

 

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