ARGONALDO

A Filosofia Cotidiana Brasileira

Argonaldo é uma personagem criada pelo filósofo Sérgio Sá Júnior, que por caráter analítico, serve ao leitor uma base descomplicada das situações atuais em todos os âmbitos da vida brasileira.

sábado, 12 de junho de 2021

 

A CORRUPÇÃO DO PATRIOTISMO

 

 

    São tempos tortuosos, os dias de hoje - bem sabemos - mas eis que aqui deito alguma reflexão sobre um grupo que estampa as manchetes dos noticiários com as suas "pérolas" extraídas de suas cabeças de ostras.

     De início, consideremos a ausência de diligência que deveria estar atribuída aos atos quanto à falácia, destes paupérrimos espíritos defensores de autocracias e aprisionamento dos demais indivíduos de sua terra. Todavia, o fato consumado, de tal grupo “revolucionário” (bestializado) de ideias antigas e costumes empedrados, a fazer a sua meia dúzia de justificativas empobrecidas sem método e mui distante de algum senso de empatia, deixa notório, que mais longínquo ainda está o da ontologia.

 

    Desse grupo de aparelhos de manivela, tal como a bandeja de uma vitrola, que não possui controle próprio e deixa-se girar continuamente pela força que lhe impulsiona, o movimento dessa gente está nas articulações ilusórias de outrora em que se apegaram, ao ponto de conferirem determinada razão para as afirmações de caráter absoluto que espalham volta e meia. É um grupo dogmático por certo, que busca desesperadamente, por sua vontade da verdade máxima, uma centelha de inspiração capaz de guiar - segundo esse mesmo grupo - os menos iluminados para o caminho onde está enveredado, pois possui uma convicção inabalável de que a leitura através de suas lentes é o melhor caminho para todos. Pobres, paupérrimos, componentes desse grupo. Que dó em minh’alma sinto por vocês!

 

    Mas deixemos a pena e tomemos a prática. Um grupo de indivíduos que possui a intenção de dogmatizar, precisamente, é um grupo idiotizado, pois deixou-se dogmatizar por ideias conduzidas à valorações constantes - imutáveis - que não transcendem as gerações, não correspondem as necessidades básicas de convivência para a grande parte da sociedade e que perpetuam, apenas, pelo fracasso em desfrutar outros conceitos e, portanto, um novo aspecto da existência. Nesse grupo de ideias fixas, empedradas, há uma inépcia totalitária da efetividade do pensamento por si próprio. A vontade de sua verdade máxima é tão voluntariosa que não há espaço para se ouvir, ler e, assim, muito menos, refletir sobre as mudanças de comportamento que uma sociedade mais avançada traz consigo.        Preso em sua natureza desnaturada porque já está consumida, o grupo em questão, não consegue, mais ou menos, do que proferir os antigos preceitos sociais e atacar a “liberdade” a que se propõe a sociedade em seu tempo atual. Por isso justamente, vale a mácula de seus discursos que antagonizam os seus atos. O plano onírico que não está além de bravatas. Evidente que é tão tartufo quanto néscio.

     

    E de que modo as valorações mais antigas podem ser consideradas idiotizadas? Afinal, tudo o que é antigo é ruim? Pois bem, verifiquemos a primeira questão. As valorações morais que carregam em si, em um aspecto geral, independentemente do tempo a que pertençam, a vontade de verdade máxima, possuem em caráter comum o aprisionamento do comportamento do indivíduo. E esse mesmo dogmatismo que se utiliza de verdades absolutas, limita o indivíduo em um caminho já apontado, dilacera a ótica e fenece os impulsos de vontade própria e, por conseguinte, algum esclarecimento sobre si próprio, tornando esse indivíduo escravo de um conjunto de regras que não cumulariam desastre algum se não fossem cumpridas. Contudo por caráter absolutista, os aproveitadores eloquentes lançam suas granadas de forma contumaz, para então, em conformidade com a realidade de muitos, suavizarem, teoricamente, o terror projetado, subordinando pela esperança, o indivíduo que agora se encolhe e age sem reflexão pelo medo do que pode acontecer, mas que ainda não aconteceu e que, talvez, jamais aconteça. E partindo deste ponto, tratando o problema maior que a conjectura pode valer, o indivíduo se fideliza ao seu “advogado” sem perceber que agora torna-se escravo de sua própria covardia, aprisionado à uma crença de manutenção de bem estar, lançando em conluio, uma idealização em que não tivera participação alguma com nenhuma opinião.

    Por força, existem valores de tempos idos que são necessários para a defesa, manutenção e conscientização da liberdade social que cada um deve desfrutar. Valores que, mesmo tradicionalistas, não se deixam arrebatar pelo niilismo porque asseguram, como bem asseguravam com contundência a liberdade de outrora e, hoje, a liberdade atual.

 

    Enveredados nesse caminho, sigamos com a prática de nosso cotidiano, desde a mixórdia de devaneios de notícias que destituiu e criminalizou o Partido dos Trabalhadores, até o alcance - com o mesmo processo mentiroso - do atual presidente da república.

    É mister, antes de qualquer coisa, lembrar que - como eu já havia dito antes - a população brasileira, não diferente de muitas outras, possui como base crítica, o empirismo.

 

    O empirismo em uma população é a corrente que mais felicita, quando as experiências permanecem positivas, mas a que mais, da noite para o dia, inverte o valor de seu juízo quando o positivismo da experiência já não é tão presente. Sendo assim, logo é a que mais condena quando toda coisa se torna negativa. E nesse ponto, a coisa negativa, tanto pode ser real quanto onírica ou sugerida. A criação de uma crítica que conduz à outra e depois ao caos total, possui nos detalhes da comunicação, uma força incomensurável quando mesmo o menor dos deslizes, o menos prejudicial, a precede.

    Entretanto, diferente do que costumávamos ver, a última eleição para presidente já trazia consigo um amarrado de pessoas já “trabalhadas” por mentiras, mormente, através de líderes religiosos absolutistas, caudilhistas para ser mais exato, que uma vez senhores de seus escravos, a empresa de lançar-lhes a “luz” de suas obscenidades avarentas, não exigia grande esforço.

    Com o passar do tempo - e por força de todos os absurdos que até a visão mais embaçada consegue enxergar - muitos dos que estavam amarrados nos laços daquele obscurantismo - para surpresa de seus senhores - começaram a se soltar e tomar para si, novamente, algum controle de sua própria essência, algum controle de sua natureza desnuda, e, portanto, excomungados da seita fundamentalista e de seio autocrático, porque para a permanência dessa hipnose, é mister expulsar o primeiro que desperte sem que se faça muito estardalhaço, mesmo que se trate de um despertar ainda quebranto, pois se há residência no espírito alguma teimosia, o risco torna-se deveras custoso. Todavia para os espíritos aprisionados, o valor do empirismo de outrora cede seu lugar ao do negacionismo da realidade - triste por ser em um aspecto geral. E essa troca do bem social no país - querendo fazer valer os discursos autocráticos, caudilhistas, como ferramenta de salvação para a nação - é onde está a corrupção do patriotismo, pois para os “amarrados”, para o grupo dogmatizador que também é dogmatizado, troca-se a liberdade da população inteira por algo imaterial, onírico, que de tão quebranto falece em frações de segundos após o nascimento: nada mais do que uma série de mentiras de grosso calibre e português malfadado.

    Um forte exemplo, tomando os fatos de nosso cotidiano, é o presidente proferir algo nefasto ou mesmo fúnebre, e logo em seguida, dizer de jeito estafermo, que não fora bem interpretado. Então o grupo dogmatizado toma para si, como resultado instantâneo, a mais absoluta crença de que a interpretação de todos fora equivocada, atribuindo todo senso de razão ao ídolo venerado, bem como como se atribui o mesmo senso de razão, quando o dito não possui "caráter de interpretação", e, portanto, afiançado pelas justificativas imaginadas. 

    Por essa ótica, é notória a disposição dos corrompidos em deitar por água abaixo toda construção de bem social que se forjara até os dias de hoje. Descumprindo o bem merecer de respeito que se deve a cada indivíduo de sua própria terra. Essa corrupção patriótica, é muito maior do que a praticada nos gabinetes políticos: entrega a própria gente à sorte de demônios que não hesitariam a prática de qualquer piromania, diminuindo a força da resistência da própria população pela sua divisão, abrindo para a sociedade um horizonte destruído, dotado de grilhões por todos os lados e cadafalsos sob cada passo proposto. No entanto, a pusilanimidade em atuar conforme se discursa é que torna idiotizada a compulsão dessa gente, caracterizando em cada elemento desse grupo uma inutilidade tão aguda que, como senso comum, o ato em si é esperado por alguma força extraordinária.

 

    Ainda que o grupo dogmático seja minoria no país, afeta-me a indolência com que tratam a própria vida e com a mesma que tratariam a vida de seus compatriotas. Ou já não possuem alegria e esperança para viver ou se contorcem pelo incômodo do bem estar social geral. Não há importância alguma no que diz respeito ao mau trato com a nação. A vontade de verdade máxima imposta por seus dogmatizadores não admite qualquer flexibilidade de pensamento, e portanto, tal imposição exige o dever da conversão para a realidade pelo preço que custar.

 

    Contudo, não há espaço para o engano: todo e qualquer dogmatizador é um espírito dogmatizado. Um dogma oriundo de outrem ou da própria derrota do ser em ser, ante os próprios impulsos ambiciosos que se tornam o máximo senhor de uma vontade de verdade máxima, subjugando o indivíduo a si próprio, tornando-se escravo de si mesmo.

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