ARGONALDO

A Filosofia Cotidiana Brasileira

Argonaldo é uma personagem criada pelo filósofo Sérgio Sá Júnior, que por caráter analítico, serve ao leitor uma base descomplicada das situações atuais em todos os âmbitos da vida brasileira.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

 

TOUTES LES FEMME SONT EXTRAORDINAIRES

 

 

DA AMIZADE: Cosa possiamo fare adesso? Conversando com uma amiga, e evidente, que por dedicação recíproca, tomando o papel que bem me cabia, além do que trata o meu ofício, por uma basta indignação do tempo em que vivemos - que me parece horrorosamente retrógrado - não poderia de modo algum prescindir destas linhas que deito ao iluminar, que por sua vez, deve eliminar, erradicar, as razões que circundam os espíritos menos ilustrados, ainda presos em um conjunto normativo dos séculos passados, atenuando a própria incongruência essente - através da ignorância - por caráteres já moldados, estabelecidos pelo senso da moral coletiva - que sempre é estúpida - onde se encontra alguma valoração que lhe justifique o escarro de qualquer julgamento se qualquer outro elemento apresente l’écart.

 

Na conversa mencionada, me contava, minha amiga, que fora brutalmente açoitada por argumentos desnaturados e que chegou ao cume do que lhe toma lúgubre o espírito. Na ocasião lhe dediquei o sucedido, bem assim como dedico agora, aos leitores desse post: a amizade é um encontro de ideias que se enlaçam por reciprocidade. É natural e bela, pois livre é sua essência e, portanto, fluida. Entretanto, não nos enganemos que tão somente alguns enlaces de ideias, mesmo naturais, tome todos os nossos “amigos” como nossos leais defensores ou conselheiros quando algo não lhes cabe. Muitos dos considerados amigos serão os primeiros a martelarem os pregos - mesmo que gentilmente - que fundirão nossas mãos e pés - após um sermão indolente do alheio espírito ineficiente porque ainda vive dos conceitos de tempos bem idos - a cruz que já trazem consigo pronta: a digito cognoscitur leo. Com efeito, um calvário maçante onde os ouvidos latejam logo nos primeiros instantes e em breve seguida o desejo da crucificação e a partida do julgo romano. Por minha ótica: amigos são os que apresentam os seus pensamentos, e que sejam antagônicos, há em si o desvelo maior de se consumir nas exposições de suas ideias sem deixar evanescer o laço conquistado com o outro.

A refutação constante sobre o pensamento do outro e sua vontade de si, para imposição de uma verdade que apenas lhe cabe, repudiando o bem estar em si do amigo por razão de alguma circunstância, e por força qualquer julgamento que lhe faça, não podemos de modo algum considerar como amizade fluida, mas uma relação atroz, em que o império da compreensão de um lida grotescamente com a razão de ser do outro. Essa natureza de silogismo que se ocupa de premissas cadavéricas, que urgem algum auxílio de novos e bons ares, quando resoluta em hibernar por tempo indeterminado, denota em si um caráter pútrido de escarros sem remorso. Então novamente nos toma a questão: Cosa possiamo fare adesso? Simples: que o oprimido se liberte do opressor.

 

DO CONCEITO: No que concerne ao assunto em questão, a indignação que me toma é por um descuido ignóbil acerca do feminino. Antes, porém, precisamos nos perguntar:

 

1 - É condição inata do sexo feminino ter que se depilar, sentar com as pernas fechadas, ser estupidamente leal e fiel, ser subserviente, ter filhos, se casar de branco e se entregar ao máximo ao ponto de outro molde para um marido?

 

2 - É condição inata do sexo feminino sofrer com a violência masculina e a própria feminina?

Sejamos mais práticos:

 

1 - Por que as mulheres devem sentar com as pernas fechadas? Causa algum mal natural se sucedido o contrário ou moralmente é inaceitável?

 

 

2 - Por que as mulheres precisam se depilar? Causa algum mal natural se não o fizerem ou a mulher tem - por obrigação de bem estar de existência social - que cumprir com tal exigência?

 

3 - Por que as mulheres precisam se casar, serem estupidamente devotas (leais, fiéis e subservientes) aos maridos, e carregarem em seu ventre a prole que talvez ela não queira? Causa algum mal natural se sucedido o contrário ou pela razão da sociedade...

Bem lá se ia mais uma pergunta dedicada ao imbecilismo social em que ainda, muitos, desdobram a própria vida como se vista em uma película: a cena perfeita de um filme perfeito de um roteiro divino. Putz! Heresia!

 

Atenuar a própria incongruência essente, significa o aprisionamento de si mesmo, em si e para si, criando justificativas para bons comportamentos sociais ao ponto de se convencer de que a natureza é apenas um detalhe em nossa existência. E como isso não seria heresia? A sororidade não deve de modo algum ser corroída por imposições de moralidades que são mundanas porque delimitam o espaço natural do ser feminino que é livre, tornando-as verdadeiras “bonequinhas de porcelana” que ao fundo, mesmo hoje em dia, praticam a mesma decadente misoginia que o sexo masculino. A mulher que ignora a sororidade é aquela que se ajoelha ante os conceitos estipulados e enceta julgamentos por aquelas que estão libertas.

Entendamos a sororidade: soror é uma palavra em latim que, traduzida para o português, significa irmã. No italiano, dos idiomas latinos, o mais próximo do latim, sorella. Parte daí a terminologia deste assunto abordado que marca, evidentemente, a espécie de comprometimento que deve estar atribuído de mulher para mulher. Mas logo eu que sou homem, que não possuo as características do caráter feminino, ouso argumentar sobre esta cosia que me passa tão longe? Quem disse que me passa tão longe? Se tem uma coisa que os homens fazem e fazem bem é se respeitarem rigorosamente de uma forma quase natural.

No trato masculino, há uma diferença substancial concernente ao que é de si próprio. Nas ocasiões em que um casal passeia, se a mulher deste nosso casal tem uma figura muito bem apessoada, na maioria das vezes, os olhares que se voltam para esta mulher - quando se voltam - são feitos na ausência de seu companheiro ou da forma mais discreta que for possível, bem como algumas possíveis abordagens, muito distantes da figura do companheiro. Se enveredarmos pelo caminho da hipótese em que esta mulher cede aos seus admiradores e “trai” o seu companheiro, para o companheiro - o que é muito claro - a culpa não é dos que abordaram, mas da mulher que se permitiu entregar aos gracejos. Na cabeça dos homens:               “aquela puta me enganou”. As disputas entre os homens que se dão por causa de uma mulher é quando o companheiro sabe da intenção do outro e mesmo após afastá-lo de seu círculo social, a perseverança passa a ser extremamente incômoda.

É certo que muito se sucede entre as mulheres o exemplo há pouco demonstrado, todavia a máxima que se segue no meio é a culpa estabelecida no caráter da amante: “ela sabia que ele era casado”. Mas o casado não sabia que era casado? Se sabia que era casado, por qual razão permitiu se envolver? A determinação construída pelos exemplos da infidelidade, conquanto não esteja na esfera abrangente de todo aspecto da sororidade, é mister sua compreensão, pois acerca dos assuntos de felicidade no meio feminino está o do bem estar do relacionamento. E é aí que encetamos a razão niilista desta nossa observação.

O espectro da sororidade não está e não pode se moldar ao que é socialmente digno tornando indigno a postura existencial naturalmente bruta. Conforme os exemplos verificados, casamentos e fidelidades em relacionamentos são ideais sociais e passam muito longe da consciência existencial que nos é instintiva; é através do sexo que procriamos e procriar significa perpetuar a nossa espécie. Quer queiramos ou não, essa imposição ignóbil do comportamento do ser humano que é bruto, essente, existencial em troca do restritivo, não passa de uma quimera mal fantasiada e que só tem como resultado final um acúmulo significativo de sofrimentos. Portanto, esses ideais religiosos e sociais de ser uma “puta” por isso ou uma “vaca” por aquilo - quando se dá tal absorção pelas próprias mulheres - é justamente o contraposto da sororidade que deveria, tal como no gênero masculino, preservar e defender o respeito de irmandade feminina. A propósito, para ênfase ao argumento, muitas vezes uma mulher casada lança sobre outra, para o marido, a consideração daquela ser “puta”, com a intenção de dissuadir o marido a qualquer aventura, entretanto é aí que a permissão está dada. Homens cumprem com as etapas que devem ser cumpridas para o sexo, se são “putas” mais fácil ainda e sendo assim mais “famosa” no círculo masculino. Prático: todos comem no mesmo prato a mesma comida e ninguém reclama com ninguém: frateridade. E se há aquele que cria laços afetivos pela tal “puta”, os outros passam a respeitá-lo, compreendendo que o “problema” é de quem se afeiçoou. Visto isso, por qual razão as mulheres apontam o dedo uma para as outras indicando aquela apontada estar em falta com a sororidade, posto ter exercido qualquer coisa que seja fora da conformidade dos dogmas que lhes são atribuídos? Quando as mulheres se permitirem viver e se respeitarem fora dessa caixinha de representações a que sempre foram submetidas, com toda força que este gênero possui que é infindavelmente maior do que o masculino, e a sororidade parar de ser uma força de comportamento social subjacente e passar a ser uma irmandade tal como deve ser, neste dia os homens saberão que o maior erro que poderiam ter cometido em sua existência foi o de subjugar as mulheres e atordoá-las com toda a sorte de sofrimento que um ser humano é incapaz de imaginar.

 

Antes do gênero e da sexualidade há a pessoa, e toda pessoa nasce livre para acumular o que lhe couber, fazer o que bem entender, e acima de tudo, livre de qualquer julgamento vindo de outro. Portanto, mulheres são mulheres, independente do ofício que escolhem, da circunstância que lhes toma, da razão de sua atitude de vontade. Todas, como todo ser humano, possuem suas particularidades. Livres para continuarem livres dos dogmas sociais e religiosos e livres para se dobrarem aos mesmos, contudo, desde que jamais tornem para os outros a mesma verdade que lhe compete como absoluta.

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